No Futebol de Competição “a verdade é a vitória”
O Treinador
Por Sérgio Raimundo
No futebol moderno e de competição, especialmente no Brasil, não podemos utilizar a realidade, mas também muitas vezes desculpa para muitos treinadores, de que necessitamos tempo. O professor Manuel Sérgio refere muitas vezes, de forma um tanto ao quanto extrema, que no futebol de competição “a verdade é a vitória”. Concordo, em parte, com esta afirmação pois não há nenhum time do mundo que busque a derrota. Contudo, o sucesso pode ter várias formas, dependendo daquilo que são os objetivos do clube. Poderá ser considerado sucesso desenvolver e transferir jogadores para obter retorno financeiro, vencer títulos por questão de vaidade ou de retorno financeiro também, formar jogadores para o futebol profissional, desenvolver profissionais de vários departamentos, promover marcas, realizar apoio social, promover comunidades, ecc.
Há clubes que contratam os treinadores pelos sucessos que os mesmos tiveram em outros clubes, e outros que buscam treinadores que se identificam com a visão e filosofia do clube (quando esta é existente). Dependendo desses objetivos e dessa visão, haverá treinadores que terão um perfil mais ou menos adequado para o clube.
Há também diversos clubes que não têm objetivos precisos e outros que mudam de objetivos durante o decorrer das competições. A realidade é que o futebol é um sistema dinâmico em constante mudança e nem sempre os clubes têm uma identidade bem definida. Os clubes têm a possibilidade de recrutar treinadores que se identifiquem com os seus valores, ou treiná-los, por forma a implementar uma filosofia e um conjunto de valores que regem o seu comportamento.
Para se ter sucesso no futebol de alta competição é sempre mais fácil fazê-lo quando se vence. Concordarão se digo que é mais fácil transferir um jogador jovem que jogue na série A do que um outro que jogue na Série B. Há sempre exceções e não digo que não seja possível transferir um jogador da série B, apenas digo que é mais fácil transferir um jogador da série A, ele tem um maior valor de mercado e maiores mercados abertos em todo o mundo. Se o time perder muito e cair para a série B, isso não ajuda na valorização do jogador, pelo contrário, desvaloriza o jogador. O mesmo acontece para atrair patrocinadores, será possivelmente mais fácil conseguir grandes patrocínios em clubes que ganham mais durante mais anos, do que clubes que ganham menos. Haverá alguns clubes-empresa que terão sucesso implementando o seu próprio modelo, começando quase do zero, mas se esse modelo não vencer possivelmente mudarão os profissionais que trabalham nele com o intuito de vencer mais. No fundo todo o mundo busca a vitória no futebol de competição pois a valorização da marca do clube será maior.
O discurso que é muitas vezes utilizado pelos treinadores é “necessito de tempo, o time necessita tempo”, mas sabemos que não vai ter o tempo que quer. O tempo que terá poderá ser uma discussão que o treinador tem com o diretor desportivo ou responsável pelo seu recrutamento antes de assumir a posição. Obviamente que nem sempre terá a resposta clara e verdadeira e que os resultados vão alterar a confiança que vai ter. Acredito que o tempo que o treinador terá será o resultado direto das crenças e da cultura existente onde o clube e as pessoas que nele tomam decisões possuem.
Outra questão que faço para reflexão é “será que os treinadores estão a optimizar o tempo que têm disponível com o time ou será que perdem tempo em coisas menos importantes?”. É aqui que o planeamento pode entrar em ação por forma a optimizar o tempo de treino e evolução do time, quando pensamos na parte de preparação do treino da equipe. Todos os minutos contam e todas as ações também, fora e dentro de campo. O tempo que um treinador despende a comunicar com um jogador pode fortalecer a ligação entre os mesmos e ajudar a motivar o jogador a treinar mais forte, por exemplo. Tempo despendido a analisar video individualmente com o jogador, a dar feedback construtivo que permite melhorar certos aspetos do jogo desse jogador, a fazer extras depois do treino para melhorar ações de jogo, ecc.
Obviamente que há muitas variáveis que influenciam o resultado, a qualidade e experiência do time, a família dos jogadores, a sociedade, a diretoria, os media sociais, mas um jogo é um desafio. Quando o treinador aceita o desafio de treinar um time, sabe que terá que ir a jogo com o que tem e terá que encontrar forma de optimizar o que tem. Não vale dar desculpas, em um jogo, o que conta é a estratégia para conseguir vencer o adversário como ele é, com os recursos que se possui, na realidade em que nos encontramos.