Proposta de Mapeamento Didático-Pedagógico no Futebol
Treinamento Personalizado e para Times com as Máquinas TOCA®
Por Sérgio Raimundo
Em 2018 tive a oportunidade de trabalhar no desenvolvimento e implementação do projeto Urban Soccer Centre, em Vancouver, no Canadá. Realizava treino individual e para times com as máquinas TOCA®, que contêm bolas de tamanho 2,5, pressão 6,8 psi (bola pequena e leve que é muito responsiva ao toque e é interessante para trabalhar o aprimoramento técnico num contexto de simulação tática creada pelo treinador). Cada máquina tem capacidade para armazenar 18 bolas no seu reservatório, lançar até 100 bolas, se voltassemos a colocar as bolas dentro do mesmo, e era controlada por um iPad que me permitia escolher o tipo de bola que queria lançar, ou fazer combinações de lançamentos (Ground Ball - bola rasteira, Air Ball - bola que rebota ou que é lançada diretamente à altura do joelho e Lob - bola com trajetória aérea curva). As cinco velocidades que se podem escolher também têm influência nas trajetórias das bolas. Para além dessas características, também podemos escolher o tempo entre o qual as bolas são lançadas sem termos que realizar qualquer ação no iPad (mínimo dois segundos, até ao máximo de nove).
A experiência, apesar de me ter feito distanciar por alguns meses dos times, fez-me dar um salto qualitativo na perceção das necessidades específicas dos jogadores e daquilo que buscam por posição. Após experiência como treinador desde 2008, em diferentes países e após ter tido a oportunidade e felicidade de trabalhar com jogadores, sobretudo sub19 e do profissional, que jogam atualmente nas principais primeiras ligas europeias (Inglaterra, Itália, Espanha, Turquia, Portugal, Bélgica, etc.), este projeto fez-me perceber que apesar de sabermos que o Futebol é um esporte coletivo constituído por indivíduos com características próprias, muitas vezes negligenciamos, ou não somos capazes de dar uma resposta efetiva às suas necessidades individuais. Um princípio clássico do treino que sempre estará atualizado é o da individualização, mas quanto verdadeiramente fazemos e quanto do que fazemos é realmente específico e suficiente?
Não tenho dúvida que quando as abordagens são mais táticas, o indivíduo é demasiado diluído no grupo (poderá estar correto pois é o grupo que tem que dar resposta coletiva em campo em dia de jogo e muitas vezes com curta margem para obter resultados). Por outro lado, quando as abordagens são demasiado técnicas individuais, a particularização é muitas vezes “demasiado geral” e igual para todo o mundo, sem ter em conta a especificidade das posições e ações de jogo e as necessidades específicas do jogador com que se está a trabalhar. Muitos times já optam, atualmente, por ter módulos de treinamento individual extra (com ou sem a tecnologia de ponta que é o 360S do Sport Lisboa e Benfica, o Footbonaut do Borussia de Dortmund e do Hoffenheim, as próprias máquinas TOCA® do Queens Park Rangers, LA Galaxy, Colorado Rapids, Real Salt Lake e New York City) ou por dedicar algum tempo a realizar exercícios de treino, individuais ou em grupos, específicos por posição, especialmente no final dos treinos.
Neste período no Canadá, foi muito importante recorrer à didática para realizar a síntese de conteúdos através de ordenação sistemática das matérias de treino e conceitos, que me permitiu a conceção, estruturação, organização e decisão acerca da aplicação de exercícios que melhor serviriam os objetivos para cada jogador, em determinada posição. Foi igualmente importante voltar a trabalhar com os simples elementos técnicos que também influenciam um todo complexo onde a tática está inserida, para além da necessidade de gestão, tanto do tempo, como dos espaços de realização dos exercícios. Em média, em cada sessão de 50’ a 60’ minutos que realizava, eram disparadas cerca de 400 bolas (entre 350 e 450) e o record do Urban Soccer Centre pertence-me com 664 bolas disparadas em 11 exercícios em 54’ de treino, apenas possível por ter sido uma sessão realizada com uma excelente atleta internacional pela Nova Zelândia.
Deixo aqui as matrizes de princípios gerais que mapearam a conceção e realização dos treinos, que só são válidas quando analisadas em interação entre si e no contexto em que foram aplicadas. Essa interação deve também ter em conta os objetivos específicos do atleta, seu perfil fisiológico e psicológico, sua idade e sua posição.
1. Possibilidades da Máquina TOCA®
2. Princípios Pedagógicos
3. Especificidade por Categoria
4. Princípios Técnico-Táticos