Os 11 Mandamentos para um Departamento de Futebol e seus Treinadores

Departamento de Futebol

Por Sérgio Raimundo

1) Importa que os treinadores e jogadores treinem e treinem como se joga, ou seja, de modo competitivo tendo em conta os fatores de rendimento físico-biológicos, técnico-táticos, psicológicos e morais. É importante manejar e saber interpretar dados objetivos quantificáveis, assim com aceitar que há dimensões não quantificáveis de subjetividade fundamental, como a liderança, o comportamento moral ou a capacidade de comunicação de um treinador.

2) “Devemos saber combinar inteligência instrumental-analítica, donde nos vem o rigor científico, com a inteligência emocional-cordial, donde derivam as imagens e os mitos” (BOFF, 1997 in Sérgio 2015).

3) Proponho uma periodização antropológica e tática, onde o Ser Humano se encontre no centro do jogo e a preparação intelectual, emocional e moral do atleta, integra a periodização tática. 

4) O que realmente importa não é o salto, o drible ou o arremate, mas sim a pessoa que salta, dribla ou arremata. Uma relação fraterna com os outros é, para o psiquiatra, o que o oxigênio é para a vida. Se na escola se dá importância à leitura, escrita e uso do computador, deveria dar-se, também, atenção a uma “alfabetização relacional”, isto é, uma gramática que nos ajude a criar e sustentar relações humanas.

5) Na preparação de uma equipe é necessário, também, o espírito de sutileza, no qual a intuição, a emoção e o “mundo da vida” permitem uma visão mais perspicaz e verdadeira do “fenômeno futebol” do que o saber dos livros. A complexidade não se resume a um conjunto de teorias, mas de vivências e de teorias em interação. A cultura é a aliança do saber e da vida, é prática que a vida confirma e é vida que a teoria sabe antecipar.

6) Desenvolver as capacidades de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal enriquece e amplia a cultura tática da equipe, com a inteligência e a personalidade de cada um dos jogadores. 

7) O corpo e o espírito não são duas substâncias inteiramente distintas, porque é o ser humano na sua integralidade que sente, quer, pensa, joga e se movimenta. Porque o atleta de atla performance passa a ser reconhecido, torna-se culto, tem os seus feitos enaltecidos, muitas vezes até ao exagero, o treinador deve pô-lo de sobreaviso contra as diversas tentações que o vão rodear. O treinador é o conselheiro que deve acentuar que o “treino invisível” (aquilo que não vemos nos treinos) também faz parte do processo de treinamento.

8) A estruturação de um departamento de futebol deve obedecer e seguir os princípios que tornam possível a produtividade, a eficácia, o gerenciamento e a abertura à mudança, para ter um futebol em consonância ao conhecimento atual.

9) O conhecimento resulta da reflexão acerca da informação proveniente da cibernética (ciência que estuda os mecanismos de comunicação e de controle nas máquinas e nos seres vivos), livros, revistas, diálogo com especialistas, reflexão sobre a própria prática e/ou sobre a dos outros e de um permanente desejo de aprender. Essa informação pode ser recolhida, compilada e disseminada num Departamento de Inteligência Competitiva de um clube, de acordo com os interesses do departamento de futebol. 

10) No futebol altamente competitivo, um treinador só é sábio se liderar equipes vencedoras. Os jornalistas e comentaristas influenciam a opinião do povo pois a opinião pública é aquela que se publica. Para lidar com isso, é essencial que se tenha uma política de educação no departamento de futebol. “É preciso treinar a mente com a mesma disciplina e convicção com que se treina o corpo. E como? (…) autocontrolando-nos, auto motivando-nos, autocriticando-nos (…)” (VIKTOR FRANKL in SÉRGIO, 2015). A crença gera biologia.

11) A aspiração a sermos mais autenticamente humanos deve estar na ideia, no ideal, na proposta de cultura esportiva do departamento de futebol. O futebol é também ciência, ele é um ato cultural e, como tal, exige um pensamento crítico e inventivo, muito além do pensamento puramente formal.

Bibliografia:

SÉRGIO, M. O Futebol e Eu. Lisboa: Manuel Sérgio e Prime Books, 2015.
 
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